quarta-feira, 25 de junho de 2014

Passar nos Exames Internacionais

     Os exames internacionais de idiomas, também conhecidos como certificados de proficiência, são provas que, como o vestibular, são mais bem enfrentadas quando temos algumas cartas na manga. O objetivo dessa postagem -- um pouco longa, mas vale a pena! -- é compartilhar algumas dicas para ajudar a quem quer passar nessas provas. Os macetes estão fundamentados na minha experiência (tenho 7 certificados internacionais: B2 e C2 em inglês; B1, B2 e C1 em francês; C2 em espanhol; e B1 em italiano) e no livro The Art and Science of Learning Languages, de Amorey Gethin e Erik Gunnemark.

     De modo geral, para passar nos exames você precisa:
1) Preparar-se corretamente antes da prova.
2) Usar as técnicas corretas durante a prova.

     Na preparação, é importantíssimo seguir um dos preceitos mais importantes da Antiguidade: Conhece-te a ti mesmo! Ou seja, tenha uma lista de seus erros "preferidos". Ter autoconsciência de seus pontos fracos é, paradoxalmente, uma das chaves do sucesso para passar nos exames. Em primeiro lugar, faz com que você não se exponha sem necessidade. Você deve mostrar ao examinador apenas o que sabe, nunca aquilo que ignora. Em segundo, faz com que você, no tempo que reservará para revisão ao final do exame, saiba exatamente o que revisar.

     Além de conhecer a si mesmo, é fundamental conhecer também a prova que será realizada. As partes que a compõem, a pontuação e o tempo alocado para cada parte, o tipo de linguagem, de estruturas gramaticais e de vocabulário a ser exigido, os assuntos que podem cair na compreensão e na produção de texto, entre outros.

     Faça as provas anteriores! Esse é talvez a dica mais óbvia, porém a mais quente. Vários dos exames internacionais disponibilizam amostras de provas anteriores (chamadas em inglês de sample papers). Mas atenção: saber e tentar decorar a resposta de mil exercícios não vale nada se você não souber como resolvê-los. O problema não é lembrar-se da resposta. O problema é lembrar do problema!

     Durante a prova, uma das técnicas básicas diz respeito ao controle do tempo, ou timing. A primeira regra é tentar fazer toda a prova. Você não obterá pontos por aquilo que deixou de fazer. E para isso, fica mais fácil se você tiver tudo cronometrado -- o tempo que deve ser gasto em cada parte da prova. Tem gente que acha estressante ficar de olho no relógio. Porém, é melhor ter esse pequeno estresse do que um grande estresse e frustração no final do exame.

     Daí a importância de se ter feito simulados da prova durante a preparação. Você saberá exatamente como se comportar quanto ao tempo. Isso é ainda mais crítico se você considerar que, ao final, ainda deve sobrar tempo para revisar e passar o que foi marcado para a folha de respostas (no caso dos exames que não são feitos em computador).

     A revisão é importante. Muita gente diz que se for revisar vai acabar apagando uma resposta certa e colocando uma errada. Isso acontece porque elas não sabem exatamente o que revisar. Dependendo das questões, você pode ir marcando aquilo onde ficou com dúvida para voltar ao final da prova. Mas isso só adianta quando são questões de compreensão de texto ou de gramática, porque as perguntas de compreensão oral são muito rápidas, e uma vez que o som acabou, não tem como voltar atrás. Essas você tem que dar o máximo de si e resolver na hora.

     Antes dessas provas de compreensão oral, é necessário ajustar o som que sai das caixas. Se o examinador não fizer isso e você sentir que está muito alto ou muito baixo, você deve solicitar ao responsável, gentilmente, que regule o som para o seu melhor desempenho. Tem gente que prefere fazer essa parte de olho fechado, outros preferem de olho aberto. Enfim, veja como você se concentra melhor e dê o máximo de si.

     Quanto à redação, antes de começar a escrever em definitivo, é crucial fazer um breve esboço do texto. Não haverá tempo para um rascunho completo, mas é possível organizar as ideias e ver quais serão desenvolvidas. Eu gosto de pensar em 1 parágrafo para a introdução, 2 para o desenvolvimento e 1 para a conclusão. E sempre começo pelo desenvolvimento, depois concluo, e então faço a introdução. Cada um pode desenvolver a sua técnica.

     É importante também, para a redação, que você tenha levantado sua lista de "erros preferidos" durante a preparação. Se você sabe que sempre comete erros com artigos definidos / indefinidos, por exemplo, vale a pena revisar o texto para esses detalhes. Às vezes os pontos que você ganha com os detalhes podem ser determinantes.

     Ah, não se esqueça do equipamento básico: eu gosto de levar meu estojo surrado, com todas as canetas, lápis e borrachas necessários, além de barra de cereal, garrafinha d'água, relógio (lembre-se de que, geralmente, celular não é permitido nas salas de prova) e outros apetrechos que se fizerem necessários.

     Resumindo:
1) Conhece-te a ti mesmo.
2) Conheça a sua prova.
3) Seja rigoroso no controle do tempo.
4) Revise.

     E, finalmente, seja realista: não busque ser perfeito na prova. É mais inteligente limitar-se a responder ao que está sendo pedido.

     Com essas dicas, a prova não o assustará, e passar será uma questão de ter o nível adequado para o que é exigido pela prova. Você aumentará a sua autoconfiança e estará no controle da situação. Encare a prova como um desafio saudável, estimulante, e você aumentará em muito suas chances de sucesso.


Boa sorte! ¡Suerte! Good luck! Buona fortuna! Viel Glück! Bonne chance !



   



sábado, 21 de junho de 2014

Certificados Internacionais

     Os Certificados Internacionais de idiomas são exames de proficiência linguística com validade no mundo inteiro. Na prática, são exames de base europeia ou norte-americana que gozam de prestígio mundial. Os exames europeus fundamentam-se no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, assunto da postagem anterior.

     Esses exames são muito bons por vários motivos, entre eles:
1) Conferem uma certificação reconhecida. Os diplomas de conclusão de curso obtidos em escolas de idiomas existentes no Brasil, por exemplo, não tem validade perante o MEC (Ministério da Educação).
2) Diferenciam o currículo de quem busca atuação profissional internacional.
3) Enriquecem o currículo acadêmico de quem quer fazer pós-graduação no exterior. De fato, universidades estrangeiras pedem aos candidatos que apresentem esses diplomas internacionais.

     INGLÊS
     Para a língua de Shakespeare, existem vários exames. Os mais comuns são o TOEFL (Test of English as a Foreign Language, de base estadunidense) e os exames de Cambridge (de base britânica). A pontuação atingida no TOEFL determina para quem você pode mostrar seu diploma -- se busca emprego internacional, a pontuação pode ser intermediária; se deseja pós-graduação fora, a pontuação deve ser avançada. Quanto aos exames de Cambridge, o nível B2, próprio para trabalho no exterior, é avaliado pelo FCE (First Certificate in English). Os níveis C1 e C2, para pós-gradução no estrangeiro, são avaliados pelo CAE (Certificate in Advanced English) e CPE (Certificate of Proficiency in English), respectivamente. Apesar de os exames de Cambridge serem tradicionalmente oferecidos pela Cultura Inglesa, os exames de inglês não são oferecidos por uma única escola ou instituição. Por isso, vale a pena se informar com a escola de idioma mais próxima, ou onde você estuda, ou onde quer estudar, para ver se ela oferece um exame internacional de inglês.

     ESPANHOL
     Para a língua de Cervantes, o exame é o DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera). Na época em que eu fiz os exames, eram oferecidos apenas em três níveis. Hoje, a julgar pelas informações do site da prova, são oferecidos em todos os níveis. As provas são realizadas pelo Instituto Cervantes.

     FRANCÊS
     Para a língua de Molière, os exames são o DELF (Diplôme d'Études en Langue Française) e o DALF (Diplôme Approfondi de Langue Française). As provas até o nível B2 são chamadas, no geral, de provas DELF, e as duas provas do nível avançado, C1 e C2, são chamadas de provas DALF. Assim como no caso do inglês, para fins acadêmicos o nível mínimo exigido é o C1. As provas são oferecidas pela Aliança Francesa.

     ITALIANO
     Para a língua de Dante, o exame mais conhecido é o CELI (Certificato di Conoscenza della Lingua Italiana) da Università per Stranieri di Perugia. Também em diversos níveis, são oferecidos no Brasil por diferentes instituições, inclusive pelos Centros de Cultura Italiana.

     ALEMÃO
     Para a língua de Goethe, o exame mais comum é o Goethe-Zertifikat, com provas desde o nível A1 até o C2. São oferecidos, no Brasil, pelo Instituto Goethe. Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) é, provavelmente, o maior nome da literatura alemã e um dos maiores nomes da literatura mundial, por isso seu nome foi repetido 4 vezes nesse parágrafo!

     Para todos esses exames, vale a pena fazer uma pesquisa na internet para se certificar das datas e locais das provas, além de outros detalhes. Em relação a outros exames de proficiência, incluindo aqueles dos idiomas não abordados aqui, recomendo conferir o seguinte link:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_language_proficiency_tests

     Só por questão de curiosidade: Portugal e Brasil também oferecem seus próprios exames. O português é realizado pelo Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira (CAPLE) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, também em 6 níveis. O brasileiro chama-se Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), desenvolvido pelo MEC. Oferecido nas principais universidade brasileiras, principalmente as federais, e em diversos países do exterior, o Celpe-Bras avalia, por meio de uma única prova, 4 níveis diferentes: intermediário, intermediário superior, avançado, e avançado superior.


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - Parte 2

     Segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, o turista que sabe algumas frases feitas e consegue se virar para comprar um bilhete de trem, reservar um quarto de hotel, ou pedir almoço, está no nível A2. Aqueles que já conseguem conversar um pouco além disso, mesmo com erros ou hesitações, estão no nível B1. Guias de turismo, por exemplo, precisam pelo menos do B1 no idioma estrangeiro com o qual trabalham.

     O nível B2 já é um estágio bom. Conheço muitos professores de idiomas que teriam de suar a camisa para passar num exame desse nível! Já um tradutor realmente profissional, tem que estar, no mínimo, no nível C1. Intérpretes de conferências que falam uma língua estrangeira na cabine de tradução simultânea, por exemplo, devem estar no C2.

     Vale lembrar que esses meus exemplos não são para serem levados a ferro e fogo. Existem vários fenômenos associados a uma língua estrangeira, como a plasticidade e o enferrujamento, por exemplo, que faz com que mudemos um pouco o nível de proficiência de acordo com o uso mais ou menos intenso do idioma.

     Outra coisa interessante a observar é que raramente estamos no mesmo nível em todas as 4 habilidades. Tomemos como exemplo a língua materna de cada um. Não é fácil encontrar alguém que escreva tão bem, nível C2, no próprio idioma. Conhecimento de gramática também -- não é difícil um brasileiro que estudou muito inglês saber mais de gramática que um inglês ou estadunidense de cultura mediana. Tudo isso são questões relativas e que devem ser consideradas no caso pessoal de cada um. Como dizem: "cada caso é um caso"!

     De qualquer forma, gosto de utilizar o Quadro Europeu porque me parece o meio mais prático e objetivo de se estabelecer o nível de idiomas de uma pessoa. O ideal seria o poliglota se avaliar e dar o seu nível em cada uma das habilidades linguísticas por meio dessa tabela. Como isso pode soar sistemático demais, vale pelo menos considerar que, quando a pessoa diz falar dezenas de idiomas, muitos deles estarão nos níveis A1 ou A2. Manter várias línguas nos níveis avançados, C1 e/ou C2, por exemplo, não é fácil, pois demanda tempo de manutenção. Aí entram os objetivos da pessoa: o que você quer com o idioma estudado?

Vale mais um bilíngue produtivo do que um poliglota disperso.

     Na internet existe o seguinte check-list, em inglês, que permite a pessoa ter uma ideia do nível em que está de acordo com o Quadro Europeu:
http://www.coe.int/t/dg4/education/elp/elp-reg/Source/Key_reference/checklist_EN.pdf

     Porém, o melhor mesmo, para dizer em que nível se está, ou até para programar o que nível ao qual se quer chegar, é procurar fazer uma prova internacional de proficiência.

     Fique à vontade para compartilhar suas experiências. Será um prazer ler seus comentários!




domingo, 15 de junho de 2014

Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - Parte 1

          Vimos na última postagem porque é interessante considerar as 4 habilidades linguísticas (leitura, escuta, fala e escrita) quando estabelecemos onde estamos e também aonde queremos chegar no aprendizado de uma língua. Agora vamos combinar a perspectiva das 4 habilidades com a tabela abaixo, apresentando o que o falante de um idioma pode fazer em cada nível considerado. A tabela é o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas -- disponível em várias fontes na Internet (principalmente em inglês, com o nome de Common European Framework of Reference for Languages) --, que modifiquei ligeiramente para adaptá-la à apresentação:

A1 (básico inferior): É capaz de compreender e utilizar expressões familiares e correntes assim como enunciados simples que visam satisfazer necessidades imediatas. É capaz de se apresentar ou apresentar alguém e indagar seu interlocutor sobre assuntos como o local onde vive, suas relações pessoais, o que lhe pertence, entre outros. É capaz de responder ao mesmo tipo de questões. É capaz de se comunicar de forma simples desde que seu interlocutor fale clara e pausadamente e se mostre disposto a colaborar para entender o que lhe é falado.

A2 (básico superior): É capaz de compreender frases isoladas e expressões de uso frequente relacionadas com assuntos de prioridade imediata -- informações pessoais e familiares simples, compras e trabalho, por exemplo. É capaz de se comunicar em situações que exijam apenas trocas de informações simples e diretas sobre assuntos e atividades habituais. É capaz de descrever com meios simples a sua formação, o seu ambiente e de se referir a assuntos que correspondem a necessidades imediatas.

B1 (intermediário inferior): É capaz de compreender os pontos essenciais quando a linguagem padrão utilizada é clara, abordando aspectos familiares em contextos de trabalho, escola e passatempo, entre outros. É capaz de participar da maior parte das situações que podem ocorrer em viagem para uma região onde a língua-alvo é falada. É capaz de organizar um discurso simples e coerente sobre assuntos familiares em diferentes áreas de interesse. É capaz de relatar acontecimentos, experiências ou sonhos, de expressar um desejo ou uma ambição, e de justificar, de forma breve, as razões de um projeto ou de um ponto de vista.

B2 (intermediário superior): É capaz de compreender o conteúdo essencial de assuntos concretos ou abstratos em um texto complexo, incluindo uma discussão técnica na sua especialidade. É capaz de se comunicar com grande espontaneidade, o que permite uma conversa normal com falantes nativos, não se detectando tensão em nenhum dos interlocutores. É capaz de se expressar de forma clara e detalhada sobre uma vasta gama de assuntos, de emitir opinião sobre uma questão atual e de discutir as vantagens e desvantagens de diferentes argumentos.

C1 (avançado inferior): É capaz de compreender uma vasta gama de textos longos e complexos, inclusive detectando significações implícitas. É capaz de se expressar de forma espontânea e fluente sem, aparentemente, ter de procurar as palavras. É capaz de utilizar a língua de maneira eficaz e flexível na sua vida social, profissional ou acadêmica. É capaz de se expressar sobre assuntos complexos, de forma clara e bem estruturada, e de mostrar domínio dos meios de organização, de articulação e de coesão do discurso.

C2 (avançado superior): É capaz de compreender sem esforço praticamente tudo o que lê ou ouve. É capaz de reconstituir fatos e argumentos de fontes diversas, escritas e orais, resumindo-as de forma coerente. É capaz de se expressar de forma espontânea, fluente e precisa e de distinguir pequenas diferenças de sentido relacionadas com assuntos complexos.

          A tabela foi criada pelo Conselho Europeu com o objetivo de propiciar um denominador comum aos métodos de aprendizado, ensino e avaliação das línguas da União Europeia. Posteriormente, o Quadro foi utilizado também para servir de base às provas de proficiência dos diferentes países europeus (goo.gl/fvDQnu). Por isso, as provas internacionais de inglês (Cambridge), francês (DELF/DALF), italiano (Perugia), espanhol (Instituto Cervantes) e alemão (Instituto Goethe) seguem essa mesma escala.

          Para quem quiser ter uma visão mais detalhada do Quadro, com as habilidades dos 6 diferentes níveis detalhadas em cada uma das 4 habilidades, é só fazer o download do material disponível no link abaixo:
http://europass.cedefop.europa.eu/pt/resources/european-language-levels-cefr.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A perspectiva das 4 habilidades linguísticas

No aprendizado de 1 idioma, é preciso considerar as 4 habilidades:
1) Compreensão auditiva (escuta).
2) Compreensão escrita (leitura).
3) Produção oral (fala)
4) Produção escrita (escrita).

As duas primeiras costumam ser chamadas de habilidades passivas e as duas últimas de habilidades ativas. Embora não seja tão exata essa classificação -- diante de um texto complexo o esforço de compreensão, portanto esforço ativo, pode ser enorme! --, é fato que aprender a ler bem textos de sua área de especialidade pode ser mais rápido e mais viável do que aprender a dar palestras no idioma estrangeiro na sua mesma área de habilidade, simplesmente porque quando você lê, recebe as frases prontas, e quando você tem que articular tudo isso pela sua própria conta, o esforço exigido é diferente.

De qualquer modo, o importante aqui é entender que quando uma pessoa diz que sabe ou fala 20 idiomas, por exemplo, ela na verdade sabe ler, em diferentes níveis de competência, a maioria dessas línguas, e sabe falar bem algumas delas. De outras línguas, ela sabe o básico, umas 400 palavras e 50 frases, por exemplo, ou ainda menos. O poliglota sueco Erik Gunnemark, co-autor do livro "The Art and Science of Learning Languages", afirmou: "if you read or hear that a certain person 'can speak' (or 'speaks') a large number of languages (for instance twenty or more) you should always be a little skeptical." (se você ler ou escutar dizer que certa pessoa 'consegue falar' (ou 'fala') um grande número de idiomas (por exemplo, vinte ou mais) você deve sempre permanecer um pouco cético). Isso está no livro Babel no More, de autoria de Michael Erard, página 226.

Isso é apenas para pôr as coisas em perspectiva. Quando perguntam para o estadunidense Alexander Arguelles quantas línguas ele fala, o estudioso demonstra grande cautela, e apesar de ter estudado mais de 50 idiomas, afirma falar mesmo apenas a sua língua materna -- o inglês --, além do francês, do alemão e do coreano. Entrevistado por Michael Erard, (página 115 de Babel No More), Arguelles afirma "most of the languages I've studied I've never spoken, and I probably never will" (nunca falei a maioria das línguas que estudei, e provavelmente nunca falarei).

Portanto, o ideal mesmo seria a pessoa sempre pôr em perspectiva o nível dela nas 4 diferentes habilidades linguísticas. Isso ajuda também no estabelecimento dos objetivos de aprendizagem. Ela pode focar em tão-somente aprender a falar, e permanecer praticamente uma analfabeta na língua em questão. Por outro lado, grandes filólogos (pesquisadores dos idiomas e textos mais representativos de uma cultura com o objetivo de compreender a visão de mundo de tal sociedade), por exemplo, estão mais preocupados em apreender a estrutura e saber ler uma língua do que propriamente falá-la. A ênfase no falar é típica da sociedade atual. Nada de errado, já que falar inglês é uma necessidade real de grande número de pessoas.

Mas então, alguém pode perguntar: "ok, entendi que devemos considerar as 4 habilidades toda vez que falarmos de proficiência linguística. Porém, como dizer, de modo objetivo, em que nível estamos ou em que nível queremos chegar?" É certo que referências como "básico", "intermediário" ou "avançado" não são precisas. Necessitamos do apoio de uma escala confiável e validada. É aí que entra o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, assunto da próxima postagem!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Princípios da aprendizagem de idiomas - Parte 2

Na postagem anterior, falei de 5 princípios da aprendizagem de idiomas. Aqui vai a continuação -- lembrando: não é nada exaustivo. Quem tiver mais ideias ou experiências, contribua!

6. Princípio da diversão. O esforço é necessário, porém não deve ser um fardo. Pelo contrário, quando encarado de modo prazeroso, divertido, torna-se praticamente um hobby. Muitos temos que aprender por necessidade. Porém, o aprendizado, quando você se envolve e não faz apenas por obrigação, se torna muito mais eficiente.

7. Princípio do estabelecimento de objetivos. Novamente, isso é ainda mais relevante para adultos, porém pode servir para as outras faixas etárias também. O ideal é aprendermos com um objetivo em mente, mesmo que seja aprender por aprender, por diversão (aliás, talvez uma das formas mais divertidas, rápidas e eficazes de se aprender um idioma estrangeiro!!). Porém, o objetivo aqui trata-se do nível em que queremos chegar, até onde queremos ir, que tipo de vocabulário queremos dominar, que tipos de textos queremos ler, com quem queremos conversar, se vamos viajar para o país da língua estudada ou se vamos apenas aprender frases turísticas para atender os estrangeiros que nos visitam. Todas essas questões, entre outras, fazem parte dos objetivos, e ajudam a delimitar o tempo que será necessário para o estudo. Com essas perguntas respondidas, é possível termos maior realismo e sabermos até onde podemos chegar, evitando de vez qualquer frustração no aprendizado de idiomas!

8. Princípio da observação. Os idiomas nos apresentam coisas novas constantemente -- inclusive nossa língua materna! --, e geralmente seguem um padrão. Pode-se dizer que aprender um idioma é aplicar o que se observou. Se a pessoa para de observar, ela para de aprender. Por isso, simplesmente ter muitas horas de uso do idioma não significa, necessariamente, o mesmo número de horas de aprendizado. É o caso do estrangeiro que vem para o Brasil, aprende a falar razoavelmente bem, todo mundo o entende, mas mesmo assim ainda fala "o nuvem". Ele pode até ver outros falando certo, mas como parou de observar o português, e ninguém o corrige, ele acaba estagnando e repetindo indefinidamente o mesmo erro. A pessoa só faz progressos se observa atentamente o idioma na prática, aprendendo e aplicando aquilo que observa.

9. Princípio da concentração, repetição e prática. O esforço (realizado com prazer) rende mais quando tem foco. Daí a concentração nos objetivos que se busca no aprendizado. A repetição é fundamental, pois, como já diziam os latinos, Repetitio est mater studiorum (a repetição é a mãe da aprendizagem) -- afinal, ninguém aprende a andar de bicicleta na primeira pedalada ;) E a prática, filha da repetição, é importante porque se não praticamos, esquecemos o que aprendemos. Alguém já aprendeu um idioma e depois de um tempo sem usá-lo viu que estava enferrujado?

10. Princípio da acabativa. Só pare de estudar o idioma que escolheu depois de atingir os seus objetivos. Antes disso, você não deve se permitir parar. Isso evita que você comece o mesmo curso de tempos em tempos, sempre com a sensação de que não avançou. Depois que você atingir seus objetivos, você pode até continuar estudando o mesmo idioma, mas já não será pelos mesmos motivos, que deverão, portanto, ser revisados.

Recapitulando, o fundamental é: responsabilize-se pelo seu próprio aprendizado!

domingo, 8 de junho de 2014

Princípios da aprendizagem de idiomas - Parte 1

O aprendizado de idiomas se torna muito mais eficiente quando aplicamos técnicas que deram certo com outras pessoas e que, ainda mais importante, combinam com o nosso temperamento e estilo. Antes, porém, de nos lançarmos de cabeça no uso de técnicas para dominar o idioma que queremos, é importante entender quais são os princípios -- que poderiam ser chamados também de regras ou até métodos, dependendo da abordagem -- que fundamentam o aprendizado de idiomas, especialmente de adultos. Apresento aqui 10 princípios retirados de minha experiência e leitura, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto. A fim de não cansar o leitor, nessa postagem vão os 5 primeiros:

1. Princípio da disponibilidade de tempo. Aprender exige tempo. Se a pessoa tem desejo de aprender, porém não dispõe de tempo, não pode nem começar. Muito pouco tempo pode ser ineficiente, porém muito tempo disponível pode também fazer a pessoa se dispersar.

2. Princípio da organização e disciplina. Esses dois pontos são colocados juntos porque um reforça o outro em relação ao aproveitamento do tempo. O estudo exige organização de horário para ir à escola de idiomas ou para estudar sozinho, por exemplo.

3. Princípio da motivação. Fator crucial para se fazer qualquer coisa! Se a pessoa tem tempo mas está desmotivada, não vai progredir no aprendizado. A questão, então, é: como se motivar? A motivação surge de um interesse pessoal. Descubra qual o seu interesse no aprendizado de uma língua. Eu aprendi francês não porque gostava da cultura, mas porque precisava de uma língua a mais para me destacar no mercado como guia de turismo, e só com o tempo acabei aprendendo a admirar os franceses. Você pode aprender também apenas para ler o que lhe interessa -- a habilidade de leitura pode se desenvolver mais depressa do que a fala.

4. Princípio da utilidade. A motivação e o interesse, especialmente quando trata-se de adultos, precisa estar ligada a um contexto claro e objetivo, trazendo, se possível, benefícios imediatos. Embora me falte informações concretas para afirmar isso, tenho a impressão de que o adulto, depois dos 30, quando entra numa escola de inglês, raramente vai até o final e sai falando. Isso pode ocorrer por vários motivos, mas um deles é a falta de ligação direta entre o que está aprendendo e suas necessidades/motivações/interesses.

5. Princípio da autonomia. Esse princípio é, talvez, o mais fundamental de todos: não terceirize o seu aprendizado, assuma-o! Quem tem que fazer o trabalho é você! O professor pode ensinar, mas não pode aprender por ninguém. Quem aprende é o aluno.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

GALINHA TONTA - Doações

Vale a pena explicar um pouco do trabalho voluntário que o Edvalson (vulgo Galinha) desenvolve há décadas. Desde que teve os sonhos em que aprendeu os idiomas, ele se sente imbuído da missão de repassar seus conhecimentos de modo GRATUITO às crianças carentes. Como não tinha estrutura, ele começou ensinando os fundamentos do inglês, japonês e alemão debaixo da sombra de um pé de juazeiro que fica na esquina da sua casa:
Com o tempo, Galinha pensou que uma edificação de alvenaria no fundo do terreno da sua casinha lhe ajudaria a otimizar os trabalhos. Assim, começou uma campanha entre os alunos. O slogan era: "uma criança, um tijolo". Cada aluno(a) levava um tijolo doado pelo pai, ou pela mãe, para ajudar na construção da Escola do Galinha Tonta. Dessa estrutura, aqui vemos o quadro negro:
Já com as aulas em andamento nessa nova estrutura, Galinha fundou em 2005, com a ajuda de voluntários da comunidade local, a Associação Espaço Fala Menino (http://www.galinhatonta.com.br/). Na foto abaixo é possível ver o muro da Associação. Na verdade, trata-se do muro da casa do próprio Edvalson, que fica na frente, com a modesta edificação que serve de escola nos fundos.
No entanto, a escola está precisando de reparos, como se vê aqui no teto:
Como é tudo voluntário e o Galinha não tem recursos, pois vive de vender, de bicicleta, pimenta e balas na vizinhança, qualquer ajuda é muito bem-vinda.
Enfim, quem vê de perto o trabalho do Galinha percebe que ele realmente presta assistência às crianças. Existem várias formas de ajudar, e uma delas é a financeira. Como o Galinha foi muito gentil conosco, abrindo o seu espaço para pesquisarmos a sua realidade, e me fez um pedido pessoal para ajudá-lo a angariar fundos, resolvi fazer esse postagem dedicada exclusivamente a isso.

Pessoal, é isso aí, quem quiser ajudar, basta entrar em contato com ele pelo facebook (onde ele disponibiliza inclusive seus números de contato) ou pelo da Associação Espaço Fala Menino (http://www.galinhatonta.com.br/). Da minha parte, e do Juan Talavera, que realizou a pesquisa comigo, continuaremos a tentar ajudá-lo da maneira que pudermos!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

GALINHA TONTA

O estudo de poliglotas e o modo como aprenderam idiomas é fundamental para se entender e aprimorar o que alguns autores chamaram de "The Art and Science of Learning Languages" (A Arte e a Ciência do Aprendizado de Idiomas). Com essa intenção, a personalidade do Edvalson Bispo dos Santos, vulgo GALINHA TONTA, aparece como um caso interessantíssimo que merece um estudo mais aprofundado. Mineiro de São Francisco, ele afirma ter aprendido japonês, alemão e inglês em sonhos que começaram aos 7 e perduraram até os 22 anos de idade (https://www.youtube.com/watch?v=BmG4BwcThkE).

No mês passado, meu grande amigo Juan Talavera, estudioso das capacidades humanas transcendentes, me deu um grande presente de aniversário -- as passagens até a cidade do Galinha Tonta para estudarmos o caso pessoalmente!
No Youtube existem vários vídeos sobre o Galinha, mas estudá-lo in loco é outra coisa! Além do estudo do poliglotismo em si, queríamos estudar a possibilidade de ter realmente ocorrido algo transcendente com ele. Ficamos 29 e 30 de maio com o Galinha Tonta. Podemos dizer que o homem é a simpatia em pessoa. Ele é um exemplo de que o poliglotismo, a capacidade de se falar (falar mesmo) vários idiomas, não se limita às escolas de idiomas. Tem a ver com prática e esforço pessoal. O Galinha é um personagem público, verdadeiro embaixador da cidade. Muitas pessoas nos ajudaram nessa empreitada, a exemplo do Delcídio, dono da Pousada Peixe Vivo, aliás, recomendada a quem quiser se hospedar na beira do Rio São Francisco (o Velho Chico),
e o Valério, dono do Restaurante e Pizzaria Via Center, também recomendada a quem estiver na cidade, além do João Naves de Melo, autor, folclorista e editor do Jornal O Barranqueiro, grande intelectual da região. Levantamos muito material sobre o Edvalson, e será preciso um artigo a ser publicado oportunamente para dar conta da quantidade de informações reunidas. Porém, gostaria de deixar registradas aqui algumas hipóteses sobre o caso Galinha Tonta:

1) Algo transcendente parece ter de fato ocorrido com ele, não sabemos exatamente o quê. Provavelmente a melhor maneira de explicar seja por meio da projeção consciente.

2) Ajudas transcendentes e bem-intencionadas tendem a ocorrer quando os efeitos de tal intervenção tenham consequência na melhoria de vida de muitas pessoas. E isso é exatamente o que o Galinha faz. Ele tem ensinado as crianças carentes, repassando seus conhecimentos sobre idiomas e sobre a vida, há décadas, tendo ajudado milhares de crianças até o momento, tudo de forma gratuita. Ele tem uma escola no fundo do terreno onde mora, e está buscando apoio financeiro para melhorar a estrutura.

3) Pude avaliar o inglês e o alemão do nosso personagem. Diria que ele está no nível B1 com grande potencial para o nível B2. O que é isso? É o nível intermediário avançado! E isso é impressionante, um grande estímulo para quem até hoje sofre com as aulas de inglês.

E isso aí, para quem quer aprender idiomas de modo mais eficiente, os poliglotas são uma inspiração constante. O Galinha é um desses, que vai mostrando o caminho adiante. Vamos em frente! Siempre adelante! Let's keep on going!