segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Resumão

Prezados leitores,

Devido a um projeto de tradução assumido recentemente, precisarei me afastar da escrita desse blog. De qualquer modo, nas últimas postagens vocês encontrarão um resumão das principais técnicas de estudo nas 4 habilidades linguísticas, e também informações sobre o nível que podem atingir e dicas de autodidatismo. Continuem participando e deixando seus comentários.

Desejo ótimos estudos a todos!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Técnicas de escrita

A escrita geralmente é a última habilidade que desenvolvemos na língua estrangeira. Contudo, é importante para quem realizará prova de proficiência ou deseja ser tradutor, por exemplo. Vejamos algumas questões prévias de autoavaliação:
1. Você escreve algo derivado de necessidade real (tema e vocabulário pertinentes)?
2. Elabora resumo antes de começar?
3. Busca consolidar o que já conhece?
4. Aplica o que acabou de aprender?
5. Elabora lista e controla seus "erros preferidos" (aqueles que você sempre comete)?

Agora vejamos 3 técnicas de escrita propriamente ditas, seguidas de 3 observações:
1. Técnica do speech focada somente na escrita: como já comentado no post sobre a técnica de conversação do speech (discurso), a ideia é escrever algo que você precisa comunicar imediatamente. A necessidade de escrever fará você buscar ativamente pelos conhecimentos que porventura lhe faltem, como vocabulário e gramática. Devido a essa busca ativa e uso imediato, a tendência de você fixar esses conhecimentos é maior.
2. Técnica da escrita de diálogos: assim como na conversação a pessoa pode falar alto ou treinar diálogos apenas mentalmente, aqui tudo é posto no papel. Já foi dito uma vez que a leitura fornece conhecimento, o debate dá agilidade e a escrita confere precisão.
3. Técnica da cópia: trata-se da cópia do trecho preferido de um livro, revista ou qualquer mídia impressa. A partir dessa cópia, você pode alterar algumas palavras por seus sinônimos, alterar a estrutura de uma frase, enfim, você pode brincar com o texto, melhorando sua escrita, vocabulário e gramática tudo ao mesmo tempo, tendo como foco um texto que aprecia.

Quando estiver escrevendo e ficar em dúvida quanto a uma palavra ou estrutura, use o que achar mais correto. Não pare para checar em gramáticas ou dicionários enquanto estiver digitando ou com a caneta na mão. Só depois de finalizado o texto você volta nas partes duvidosas e faz uma revisão. Assim você pode verificar se o que pensou estava correto ou não e retificar seu pensamento. Se você sempre consulta as gramáticas ou dicionários antes de escrever, pode acabar fazendo isso de modo automático e não assimilar o conteúdo procurado.

Por outro lado, você pode estudar na gramática uma determinada estrutura e em seguida utilizá-la em seu texto. O mesmo pode ser feito com vocabulário novo. Você pode usar uma técnica ou outra, conforme seus objetivos, ou mesmo variá-las, usando ora uma ora outra, a fim de quebrar a rotina e tornar os estudos autodidáticos sempre atraentes.

Além disso, é importante também ter seu texto revisado por nativos do idioma. Agora, cuidado! Se você está caminhando do nível intermediário para o avançado, por exemplo, um nativo com poucos conhecimentos linguísticos pode acabar dando uma opinião duvidosa. Já tive experiência com nativos de vários idiomas que, por saberem menos de gramática e às vezes por desconhecerem palavras mais técnicas, acabaram corrigindo errado o meu texto. Às vezes, quando você descobre que aprendeu errado, pode ser tarde demais, ainda mais se você estiver fazendo um exame de proficiência! Por isso, é muito importante selecionar os seus "tutores" linguísticos. Isso ocorre porque a parte escrita é a habilidade menos treinada pela maioria das pessoas, seja qual for o idioma.

Boa escrita!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Técnicas de leitura

As técnicas de leitura em idioma estrangeiro são fundamentais para aumentar o vocabulário, adquirir conhecimentos técnicos ou mesmo para entretenimento. Ao modo de autoavaliação, o(a) interessado(a) pode começar respondendo às seguintes perguntas:
1. Uso meus conhecimentos sobre o tema para decifrar as partes obscuras de um texto?
2. Apoio-me no contexto?
3. Aproveito os cognatos para ampliar meu vocabulário?

A palavra cognato significa, aqui, as palavras de origem comum, ou mais precisamente, de mesma raiz. O verbo "considerar" tem como cognatos, por exemplo, as palavras "consideração", "considerável", "consideravelmente", "considerado", "considerando", "considerabilidade", "desconsiderar", desconsideração". Ou seja, conhecendo o verbo, não é difícil deduzir o sentido das outras palavras. Para isso é importante conhecer os prefixos (palavras que vêm antes, como o "des-" de "desconsiderar") e os sufixos (palavras que vêm depois, como o "-ável" de "considerável"). Essa habilidade com a nossa própria língua materna pode e deve ser transferida para línguas estrangeiras. Disso deriva a primeira técnica abaixo:

1. Técnica do cognato: conhecimento dos principais prefixos e sufixos do idioma para derivar palavras e decifrar o texto.
2. Técnica da repetição do tema: ler vários textos sobre o mesmo assunto de interesse. O ideal é que seja assunto já dominado na língua materna, pois sendo assim fica mais fácil deduzir o significado de palavras desconhecidas no idioma estrangeiro.
3. Técnica da leitura de livro traduzido: ler a tradução, para o idioma estudado, de um livro que se conhece bem. Apesar de muitas vezes traduções não apresentarem a mesma fluidez de um texto escrito no idioma original, elas são muito boas porque você já sabe de antemão o que o texto quer dizer.
4. Técnica da leitura extensiva: na leitura extensiva, lê-se muito sem se preocupar com detalhes ou palavras desconhecidas. A ideia é passar por cima do texto para, de maneira até inconsciente, se absorver o modo de construção das frases (sintaxe) assim como vocabulário novo.
5. Técnica da leitura intensiva: na leitura intensiva, seleciona-se um trecho para dissecção. Dissecar significa entender todas as relações entre as palavras, a começar pela identificação do sujeito, do verbo e dos complementos, suas variações, e todo o vocabulário contido naquela passagem. Não importa se são necessárias 3 horas para chegar aos mínimos detalhes. Esse esforço ocasional tem um retorno considerável na compreensão automatizada de novos trechos.

Nesse ponto é preciso fazer uma observação sobre o uso de gramáticas e dicionários:
1. Gramáticas: quando a pessoa já tem o nível mínimo para começar a ler de modo independente, a questão principal torna-se mais vocabulário do que gramática propriamente dita. O ideal é recorrer a gramáticas apenas para ilustrar um trecho ou construção que não foi bem entendido. Mas a leitura feita com motivação, com interesse real no significado que o texto pretende transmitir, ajuda a superar dificuldades gramaticais.
2. Dicionários: o uso constante de dicionários a cada palavra desconhecida, a cada linha de um parágrafo, acaba desestimulando e faz a pessoa abandonar a leitura. É preciso superar a tentação de se abrir o dicionário a cada palavra desconhecida. Para ajudar nesse sentido, o contexto e a técnica do cognato são muito úteis. E se a palavra desconhecida for extremamente importante, ela vai aparecer tantas vezes no texto que se você não acabar entendendo seu significado, você vai perceber que essa é uma palavra que vale a pena consultar no dicionário. Em minha opinião -- com a qual você não precisa concordar -- as palavras tem a seguinte ordem de prioridade decrescente: primeiro os substantivos, depois os verbos, adjetivos e advérbios. A frase deve ser usada para ilustrar o vocabulário, e não o contrário.

Muito mais pode ser dito sobre vocabulário, gramáticas e dicionários, mas o objetivo é abordar esses assuntos dentro do âmbito das técnicas de leitura. Se o leitor, ou a leitora, conhecer mais algumas técnicas, fique à vontade para compartilhar!


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Técnicas de compreensão auditiva

Conversação é o que a maioria das pessoas buscam quando o assunto é línguas estrangeiras. Para conversar melhor, entender o interlocutor é fundamental, daí a importância das técnicas de compreensão auditiva. Antes, a fim de melhorar a escuta em língua estrangeira, o(a) interessado(a) pode se fazer as seguintes perguntas:

1. Utilizo o meu conhecimento geral e faço inferências para tentar entender?
2. Consigo indicar com precisão o que não entendi ao meu interlocutor?
3. Repito o que foi dito de outro modo, resumindo, para confirmar se entendi?

Agora algumas técnicas básicas:

1. Técnica da escuta com texto escrito:
 isso é possível fazer com amostras de provas de idiomas acompanhadas do áudio e respectiva transcrição, ou ainda com revistas tipo a SpeakUp ou matérias da BBC (inglês), Radio France Internationale (francês) ou Deutsche Welle (alemão), por exemplo. A ideia é escutar tudo primeiro e checar o quanto se entendeu. Depois da segunda escuta com o máximo de atenção, lê-se o texto. Nesse momento a pessoa verifica os pontos que não foram compreendidos -- foi um conjunto específico de fonemas? foi uma palavra ou expressão nova? Enfim, a pessoa faz uma autoavaliação. Ao final, ela escuta o trecho novamente, dessa vez com o acompanhamento do texto. Isso aumenta o discernimento auditivo do aprendiz.

2. Técnica da escuta com foco: você pode escutar para pegar os verbos no particípio; ou as referências numéricas; ou as junções de palavras (liaison em francês); ou os conectivos; ou o contexto geral; ou alguma informação específica; enfim, qualquer coisa que seja seu objetivo no momento. É normal que algo passe despercebido, daí a pertinência da questão número "1" acima.

Por último, vale recomendar -- para quem estuda inglês -- o livro "Como entender o inglês falado", autoria de Ben Parry Davies. Na introdução do livro temos o seguinte trecho: "É muito fácil confundir sucesso em compreensão com compreensão total, e o comentário frequente "não entendi nada", na verdade, quer dizer que o aluno não conseguiu entender tudo, apesar de muitas vezes ter entendido o suficiente para o objetivo comunicativo."

Bons estudos!

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Técnica de conversação - speech

A técnica do speech é uma técnica de conversação em idiomas estrangeiros. Funciona assim:

1. Escolha o assunto sobre o qual quer falar. Tem que ser um assunto na sua área, algo que já conhece bem em português. Ou algo que vai precisar urgentemente para uma viagem, por exemplo.
2. Faça um rascunho em português mesmo. Coisa curta, um parágrafo de 3 a 4 linhas no máximo.
3. Traduza o texto para a língua que estiver aprendendo da melhor forma possível. Haverá erros, claro, porém não se preocupa com isso. O fato de você pensar ativamente no que deve dizer é a grande chave desse exercício. E a escrita ajuda a ver com clareza o que deve ser dito de modo correto.
4. Use o texto como base para a conversa com um estrangeiro no idioma que está aprendendo. Veja se ele entende, qual a reação, qual a resposta. Se ele te corrigir, incorpore a correção no seu texto para você ir aprimorando.

O speech (discurso, em inglês) pode ser também um diálogo, com você se antecipando às possíveis respostas do seu interlocutor. Essa técnica pode ser usada assim que você tiver o mínimo de conhecimento necessário para formar frases com o vocabulário que te interessa.

Em relação aos possíveis erros, a chave é você colocá-los em ordem de importância. Os erros que impedem o entendimento devem ser trabalhados antes. Quando eu estava aprendendo francês, por exemplo, para mim era prioritário saber estruturar a frase, usando o "ne...pas" corretamente, com os particípios e advérbios no lugar certo. Isso era mais importante que a conjugação exata de um verbo, pois esse é um erro que não atrapalha a comunicação.

A mesma coisa em alemão. É mais importante, no início, você acertar a ordem / estrutura da frase, com o verbo no final, do que as terminações dos casos (acusativo, dativo...). Quando você conseguir fazer o primeiro com o pé nas costas, aí você pode se concentrar nos casos, e assim vai progredindo no idioma.

Usei a técnica do speech quando atuava como guia de turismo nas Cataratas do Iguaçu para o francês e o italiano. Vivia com papel e caneta na mão anotando as palavras novas, e os turistas adoravam ajudar!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Livros do Autodidata em Idiomas

Embalado na bibliografia sobre técnicas de aprendizado de línguas, gostaria de compartilhar mais alguns títulos interessantes para quem gostaria de aprender idiomas sozinho, porém não sabe por onde começar. Vale também para quem frequenta escolas de idiomas mas deseja acelerar o aprendizado estudando por fora -- aliás, procedimento essencial para qualquer adulto nesses tempos em que todo mundo quer resultados para ontem. Para ontem não vai dar, mas pode ser mais rápido do que só na escola. Não existe milagre nem mistério, existe dedicação com as técnicas adequadas a você. As obras abaixo podem ajudar nesse sentido (infelizmente, a grande maioria ainda apenas em inglês).


01. Como ser um ótimo aluno de idiomas, de Joan Rubin e Irene Thompson.

02. Fluent in 3 months: how anyone at any age can learn to speak any language from anywhere in the world, de Benny Lewis.

03. How to learn a foreign language, de Paul Pimsleur.

04. Language acquisition made practical: field methods for language learners, de E. Thomas Brewster e Elizabeth S. Brewster.

05. Speak like a native: professional secrets for mastering foreign languages, de Michael Janich.

06. The art and science of learning languages, de A. Gethin e E. V. Gunnemark.

07. The pocket linguist: a practical guide to learning any language, de Gregg A. Miller.

08. The quick and dirty guide to learning languages fast, de A. G. Hawke.

09. The way of the linguist: a language learner odyssey, de Steve Kaufmann.

10. Whole world guide to language learning, de Terry Marshall.

Se você já leu alguma(s) dessas obras, fique à vontade para comentar. Se conhecer mais algum(ns) livro(s) nessa área, compartilhe!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Livros Poliglotismo

Pegando carona na postagem anterior, vale a pena abordar também os livros sobre Poliglotismo. Existem alguns grandes poliglotas na internet, com destaque, a meu ver, para Alexander Arguelles. No Brasil, e um dos maiores -- se não o maior -- do mundo é o Carlos Amaral Freire. Agora, livros mesmo, não é fácil achar. Por isso recomendo aqui dois títulos que me ajudaram muito a compreender o universo das práticas, técnicas e estudos referente ao poliglotismo:

1. Bilingual: life and reality, de François Grosjean. Resumindo toda a massa de estudos formais sobre o bilinguismo, o autor consegue ser didático e acessível. No meio acadêmico, o poliglotismo não é muito estudado, e sim o bilinguismo. Do ponto de vista prático, grande parte dos estudos sobre o bilinguismo podem ser extrapolados para a pesquisa sobre os poliglotas, afinal de contas, vários fenômenos (como o princípio da complementaridade e a mudança de código) são os mesmos.

2. Babel no more, de Michael Erard. O subtítulo do livro, the search for the world's most extraordinary language learners (a busca pelos mais extraordinários aprendizes de idiomas do mundo) dá o tom desse livro, quem tem o mérito de ser pioneiro no estudo dos poliglotas do jeito que eles são. Dissipar a bruma mística em torno dessas personalidades, ao mesmo tempo em que se ressalta as suas qualidades e possíveis contribuições para todos que querem aprender idiomas, é tarefa que requer honestidade e exatidão.

Esses dois livros, infelizmente ainda apenas em inglês, são bastante úteis e não podem faltar na biblioteca daqueles interessados em poliglotismo de modo geral. Conhecem outros livros na área?

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Livros Autodidatismo em Idiomas

Não é tão comum encontrar livros de grandes poliglotas falando sobre as técnicas que utilizaram para aprender idiomas. Livros sobre autodidatismo em idiomas então, mais raro ainda, pelo menos no Brasil. Mesmo assim existem alguns livros que podem ser recomendados nesse sentido:

1. Como aprendi o português e outras aventuras, de Paulo Rónai. Leitura agradabilíssima sobre como um erudito húngaro, radicado no Brasil, aprendeu o português, desde as dificuldades de interpretação de poesias paulistas até as peripécias nos bondinhos portugueses. Quando chegou ao Brasil, Rónai exclamou: "ah, esse foi o português que aprendi"! Há outros capítulos falando sobre métodos utilizados por poliglotas do mundo todo.

2. Polyglot: how I learn languages, de Kató Lomb. Outra húngara, cuja obra foi traduzida para o inglês e se encontra disponível em: http://www.cc.kyoto-su.ac.jp/information/tesl-ej/ej45/tesl-ej.ej45.fr1.pdf. Ler a Kató é motivo de inspiração constante. Vale lembrar que a maioria de suas línguas foram aprendidas em idade adulta, demolindo o mito de que se aprende apenas quando é criança. Estamos falando de uma das primeiras intérpretes de conferência do mundo.

3. The polyglot project, organizado por Claude Cartaginese. Trata-se de uma antologia com artigos de diferentes aprendizes de idiomas, alguns mais avançados, outros menos. Contam a experiência de cada um aprendendo e dominando os idiomas que estabeleceram para si. Vale a pena ler os artigos de Moses McCormick, Stuart Jay Raj e Benny Lewis. O livro está disponível em http://www.fluentin3months.com/wp-content/downloads/The_Polyglot_Project.pdf.

Existem também vários livros, sobretudo em inglês, que tratam do tema "teach yourself languages" -- ensine idiomas a si mesmo. Há de saber distinguir entre os livros sérios e os mercantilistas. Como disse no início, conheço poucos livros publicados no Brasil sobre o assunto. Além da obra de Rónai citada acima, tenho também o livro As línguas divertem: uma visão não convencional, de Oswaldo Ballarin.

Se alguém conhecer outros livros brasileiros na área, por favor compartilhe!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Autodidatismo em idiomas

É plenamente possível aprender idiomas de forma autodidata. O autodidatismo em idiomas não implica em aprendizado isolado, totalmente independente, sem recorrer à ajuda de pessoas mais capazes, eventualmente até mesmo professores. Significa, antes, o estudo conduzido e supervisionado pela própria pessoa, senhora de si, com objetivos e estratégias selecionadas por si, adequadas a si, utilizadas de maneira condizente com suas características gerais de personalidade, levando também em conta a estrutura material disponível, o tempo, e a disposição para levar a cabo a aquisição. A obra Como ser um ótimo aluno de idiomas, de Joan Rubin e Irene Thompson (2000), apresenta técnicas e estratégias para o aprendiz gerenciar o próprio aprendizado. Não se trata de um manual para o autodidata em idiomas, porém constitui um prático material de apoio e orientação nesse sentido. Destacar-se-á algumas ideias aduzidas pelas autoras com a intenção de precisar a postura autodidata.


1) Definir objetivos: é importante definir claramente os objetivos que se quer atingir ao iniciar o estudo de qualquer idioma. Para que aprender uma língua? Os motivos são tão diversos quanto as motivações pessoais de cada um. Podem ser profissionais, educacionais, sociais ou pessoais. Em primeiro lugar, definir as necessidades perante o idioma. Em seguida, manter os objetivos em um nível realista. Ninguém aprende um idioma de um dia para o outro. O seu aprendizado pode levar muito tempo, em função da afinidade, da complexidade e do grau de parentesco da língua-alvo com a língua materna, entre outros fatores.


2) Estabelecer nível: o aprendiz, a fim de manter seus objetivos realistas, pode estabelecer para si próprio o nível que pretende alcançar na língua em questão. Quer ser fluente? Quer saber o suficiente para a sua profissão técnica? Precisa aprender apenas a ler no idioma, a fim de passar em alguma prova? Ao que tudo indica, cada vez que se passa de um para outro nível o aprendizado exigirá gradualmente mais tempo e esforço. Por ocasião do processo de planejamento de objetivos, recomenda-se levar em conta o fato de que a dificuldade aumenta a cada vez que se passa de um nível a outro. Para ajudar nesse processo, pode-se aproveitar a escala global de níveis de proficiência, disponibilizada abaixo, desenvolvida pela União Européia. Tal trabalho foi realizado para padronizar as avaliações de idiomas nos diferentes países da Europa, e reflete o consenso quanto aos níveis pelos quais a pessoa passa quando aprende uma língua estrangeira.



3) Disponibilizar recursos: o aprendiz geralmente lança mão, em seu empreendimento, de livros-texto, dicionários, fitas cassete, CDs, gramáticas, fitas de vídeo, softwares, professores, falantes nativos, amigos, revistas, jornais e livros, entre outros. Vários desses materiais podem ser conjugados. Por exemplo: um artigo de uma determinada revista pode ser lido a fim de ser resumido ou então para que se escreva a posição pessoal em relação ao assunto abordado. Nessa atividade pratica-se a leitura crítica, adquiri-se vocabulário e, por fim, exercita-se a escrita. O mesmo exemplo pode ser estendido a um filme. Depois de assisti-lo, discutir-se-ia sobre o mesmo. Igualmente, se aprenderia vocabulário de maneira espontânea, se treinaria a compreensão auditiva e, ao final, se exercitaria a expressão oral. Vale assinalar que os DVDs atuais possuem recursos que permitem ver um filme na sua língua original com legendas ou na língua materna do telespectador. Há ainda revistas com artigos em formato sonoro, em CDs. Pode-se escutá-lo e depois checar a compreensão lendo o artigo. Como se constata, a imaginação é o único limite para a utilização original e proveitosa dos materiais disponíveis no mercado.



4) Desenvolver plano de estudos: estabelecidos os objetivos e o nível que se quer alcançar, conforme os recursos disponíveis, o próximo passo é desenvolver o próprio plano de estudos. Nesse particular a disciplina e a dedicação são indispensáveis. Há autodidatas que dedicam 3 horas diárias ao estudo de um determinado idioma. Há outros que estudam por imersão, isto é, procuram “respirar” o idioma-alvo 24 horas, saturando a mente com ele. Independentemente da escolha, é importante observar a dedicação dispensada a cada uma das 4 (quatro) habilidades da língua, isto é, a escuta, a fala, a leitura e a escrita. Vale a pena se dedicar a cada uma por igual ou priorizar a escuta em primeiro lugar e depois a fala? São questões que os passos anteriores já vão de certa forma respondendo e delimitando.


5) Aprender a aprender: uma boa dica é tornar-se um estrategista de si mesmo. O aprendiz que deseja aprimorar uma determinada habilidade, por exemplo, a expressão oral, pode elaborar um questionário para si mesmo a fim de aperfeiçoar cada vez mais seu processo de auto-instrução. Seriam questões do tipo: quando não sabe como dizer algo no idioma estrangeiro, tenta dizê-lo de outra forma? Ao sentir-se “travado” em uma conversação, geralmente tenta obter ajuda de seu interlocutor? Você possui uma variedade de expressões úteis para comunicar-se durante uma conversação na outra língua, por exemplo, frases fixas que expressam o seu estado de ânimo ou problemas com a linguagem, expressões padronizadas para cobrir as brechas na conversação, para ser sociável e amistoso?

           
Vale ressaltar que dificilmente os interesses financeiros de editoras de livros-texto, de escolas, e até de professores, sugerirão o aprendizado autodidata de línguas. É preciso lembrar, contudo, que uma vez que se tenha disponível a informação – a língua em si, através de livros e dicionários –, no que, aliás, a Internet veio muito a contribuir, e a vontade aliada à disciplina, é perfeitamente exequível tornar-se um autodidata. Basta, acima de tudo, dedicação.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Passar nos Exames Internacionais

     Os exames internacionais de idiomas, também conhecidos como certificados de proficiência, são provas que, como o vestibular, são mais bem enfrentadas quando temos algumas cartas na manga. O objetivo dessa postagem -- um pouco longa, mas vale a pena! -- é compartilhar algumas dicas para ajudar a quem quer passar nessas provas. Os macetes estão fundamentados na minha experiência (tenho 7 certificados internacionais: B2 e C2 em inglês; B1, B2 e C1 em francês; C2 em espanhol; e B1 em italiano) e no livro The Art and Science of Learning Languages, de Amorey Gethin e Erik Gunnemark.

     De modo geral, para passar nos exames você precisa:
1) Preparar-se corretamente antes da prova.
2) Usar as técnicas corretas durante a prova.

     Na preparação, é importantíssimo seguir um dos preceitos mais importantes da Antiguidade: Conhece-te a ti mesmo! Ou seja, tenha uma lista de seus erros "preferidos". Ter autoconsciência de seus pontos fracos é, paradoxalmente, uma das chaves do sucesso para passar nos exames. Em primeiro lugar, faz com que você não se exponha sem necessidade. Você deve mostrar ao examinador apenas o que sabe, nunca aquilo que ignora. Em segundo, faz com que você, no tempo que reservará para revisão ao final do exame, saiba exatamente o que revisar.

     Além de conhecer a si mesmo, é fundamental conhecer também a prova que será realizada. As partes que a compõem, a pontuação e o tempo alocado para cada parte, o tipo de linguagem, de estruturas gramaticais e de vocabulário a ser exigido, os assuntos que podem cair na compreensão e na produção de texto, entre outros.

     Faça as provas anteriores! Esse é talvez a dica mais óbvia, porém a mais quente. Vários dos exames internacionais disponibilizam amostras de provas anteriores (chamadas em inglês de sample papers). Mas atenção: saber e tentar decorar a resposta de mil exercícios não vale nada se você não souber como resolvê-los. O problema não é lembrar-se da resposta. O problema é lembrar do problema!

     Durante a prova, uma das técnicas básicas diz respeito ao controle do tempo, ou timing. A primeira regra é tentar fazer toda a prova. Você não obterá pontos por aquilo que deixou de fazer. E para isso, fica mais fácil se você tiver tudo cronometrado -- o tempo que deve ser gasto em cada parte da prova. Tem gente que acha estressante ficar de olho no relógio. Porém, é melhor ter esse pequeno estresse do que um grande estresse e frustração no final do exame.

     Daí a importância de se ter feito simulados da prova durante a preparação. Você saberá exatamente como se comportar quanto ao tempo. Isso é ainda mais crítico se você considerar que, ao final, ainda deve sobrar tempo para revisar e passar o que foi marcado para a folha de respostas (no caso dos exames que não são feitos em computador).

     A revisão é importante. Muita gente diz que se for revisar vai acabar apagando uma resposta certa e colocando uma errada. Isso acontece porque elas não sabem exatamente o que revisar. Dependendo das questões, você pode ir marcando aquilo onde ficou com dúvida para voltar ao final da prova. Mas isso só adianta quando são questões de compreensão de texto ou de gramática, porque as perguntas de compreensão oral são muito rápidas, e uma vez que o som acabou, não tem como voltar atrás. Essas você tem que dar o máximo de si e resolver na hora.

     Antes dessas provas de compreensão oral, é necessário ajustar o som que sai das caixas. Se o examinador não fizer isso e você sentir que está muito alto ou muito baixo, você deve solicitar ao responsável, gentilmente, que regule o som para o seu melhor desempenho. Tem gente que prefere fazer essa parte de olho fechado, outros preferem de olho aberto. Enfim, veja como você se concentra melhor e dê o máximo de si.

     Quanto à redação, antes de começar a escrever em definitivo, é crucial fazer um breve esboço do texto. Não haverá tempo para um rascunho completo, mas é possível organizar as ideias e ver quais serão desenvolvidas. Eu gosto de pensar em 1 parágrafo para a introdução, 2 para o desenvolvimento e 1 para a conclusão. E sempre começo pelo desenvolvimento, depois concluo, e então faço a introdução. Cada um pode desenvolver a sua técnica.

     É importante também, para a redação, que você tenha levantado sua lista de "erros preferidos" durante a preparação. Se você sabe que sempre comete erros com artigos definidos / indefinidos, por exemplo, vale a pena revisar o texto para esses detalhes. Às vezes os pontos que você ganha com os detalhes podem ser determinantes.

     Ah, não se esqueça do equipamento básico: eu gosto de levar meu estojo surrado, com todas as canetas, lápis e borrachas necessários, além de barra de cereal, garrafinha d'água, relógio (lembre-se de que, geralmente, celular não é permitido nas salas de prova) e outros apetrechos que se fizerem necessários.

     Resumindo:
1) Conhece-te a ti mesmo.
2) Conheça a sua prova.
3) Seja rigoroso no controle do tempo.
4) Revise.

     E, finalmente, seja realista: não busque ser perfeito na prova. É mais inteligente limitar-se a responder ao que está sendo pedido.

     Com essas dicas, a prova não o assustará, e passar será uma questão de ter o nível adequado para o que é exigido pela prova. Você aumentará a sua autoconfiança e estará no controle da situação. Encare a prova como um desafio saudável, estimulante, e você aumentará em muito suas chances de sucesso.


Boa sorte! ¡Suerte! Good luck! Buona fortuna! Viel Glück! Bonne chance !



   



sábado, 21 de junho de 2014

Certificados Internacionais

     Os Certificados Internacionais de idiomas são exames de proficiência linguística com validade no mundo inteiro. Na prática, são exames de base europeia ou norte-americana que gozam de prestígio mundial. Os exames europeus fundamentam-se no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, assunto da postagem anterior.

     Esses exames são muito bons por vários motivos, entre eles:
1) Conferem uma certificação reconhecida. Os diplomas de conclusão de curso obtidos em escolas de idiomas existentes no Brasil, por exemplo, não tem validade perante o MEC (Ministério da Educação).
2) Diferenciam o currículo de quem busca atuação profissional internacional.
3) Enriquecem o currículo acadêmico de quem quer fazer pós-graduação no exterior. De fato, universidades estrangeiras pedem aos candidatos que apresentem esses diplomas internacionais.

     INGLÊS
     Para a língua de Shakespeare, existem vários exames. Os mais comuns são o TOEFL (Test of English as a Foreign Language, de base estadunidense) e os exames de Cambridge (de base britânica). A pontuação atingida no TOEFL determina para quem você pode mostrar seu diploma -- se busca emprego internacional, a pontuação pode ser intermediária; se deseja pós-graduação fora, a pontuação deve ser avançada. Quanto aos exames de Cambridge, o nível B2, próprio para trabalho no exterior, é avaliado pelo FCE (First Certificate in English). Os níveis C1 e C2, para pós-gradução no estrangeiro, são avaliados pelo CAE (Certificate in Advanced English) e CPE (Certificate of Proficiency in English), respectivamente. Apesar de os exames de Cambridge serem tradicionalmente oferecidos pela Cultura Inglesa, os exames de inglês não são oferecidos por uma única escola ou instituição. Por isso, vale a pena se informar com a escola de idioma mais próxima, ou onde você estuda, ou onde quer estudar, para ver se ela oferece um exame internacional de inglês.

     ESPANHOL
     Para a língua de Cervantes, o exame é o DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera). Na época em que eu fiz os exames, eram oferecidos apenas em três níveis. Hoje, a julgar pelas informações do site da prova, são oferecidos em todos os níveis. As provas são realizadas pelo Instituto Cervantes.

     FRANCÊS
     Para a língua de Molière, os exames são o DELF (Diplôme d'Études en Langue Française) e o DALF (Diplôme Approfondi de Langue Française). As provas até o nível B2 são chamadas, no geral, de provas DELF, e as duas provas do nível avançado, C1 e C2, são chamadas de provas DALF. Assim como no caso do inglês, para fins acadêmicos o nível mínimo exigido é o C1. As provas são oferecidas pela Aliança Francesa.

     ITALIANO
     Para a língua de Dante, o exame mais conhecido é o CELI (Certificato di Conoscenza della Lingua Italiana) da Università per Stranieri di Perugia. Também em diversos níveis, são oferecidos no Brasil por diferentes instituições, inclusive pelos Centros de Cultura Italiana.

     ALEMÃO
     Para a língua de Goethe, o exame mais comum é o Goethe-Zertifikat, com provas desde o nível A1 até o C2. São oferecidos, no Brasil, pelo Instituto Goethe. Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) é, provavelmente, o maior nome da literatura alemã e um dos maiores nomes da literatura mundial, por isso seu nome foi repetido 4 vezes nesse parágrafo!

     Para todos esses exames, vale a pena fazer uma pesquisa na internet para se certificar das datas e locais das provas, além de outros detalhes. Em relação a outros exames de proficiência, incluindo aqueles dos idiomas não abordados aqui, recomendo conferir o seguinte link:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_language_proficiency_tests

     Só por questão de curiosidade: Portugal e Brasil também oferecem seus próprios exames. O português é realizado pelo Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira (CAPLE) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, também em 6 níveis. O brasileiro chama-se Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), desenvolvido pelo MEC. Oferecido nas principais universidade brasileiras, principalmente as federais, e em diversos países do exterior, o Celpe-Bras avalia, por meio de uma única prova, 4 níveis diferentes: intermediário, intermediário superior, avançado, e avançado superior.


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - Parte 2

     Segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, o turista que sabe algumas frases feitas e consegue se virar para comprar um bilhete de trem, reservar um quarto de hotel, ou pedir almoço, está no nível A2. Aqueles que já conseguem conversar um pouco além disso, mesmo com erros ou hesitações, estão no nível B1. Guias de turismo, por exemplo, precisam pelo menos do B1 no idioma estrangeiro com o qual trabalham.

     O nível B2 já é um estágio bom. Conheço muitos professores de idiomas que teriam de suar a camisa para passar num exame desse nível! Já um tradutor realmente profissional, tem que estar, no mínimo, no nível C1. Intérpretes de conferências que falam uma língua estrangeira na cabine de tradução simultânea, por exemplo, devem estar no C2.

     Vale lembrar que esses meus exemplos não são para serem levados a ferro e fogo. Existem vários fenômenos associados a uma língua estrangeira, como a plasticidade e o enferrujamento, por exemplo, que faz com que mudemos um pouco o nível de proficiência de acordo com o uso mais ou menos intenso do idioma.

     Outra coisa interessante a observar é que raramente estamos no mesmo nível em todas as 4 habilidades. Tomemos como exemplo a língua materna de cada um. Não é fácil encontrar alguém que escreva tão bem, nível C2, no próprio idioma. Conhecimento de gramática também -- não é difícil um brasileiro que estudou muito inglês saber mais de gramática que um inglês ou estadunidense de cultura mediana. Tudo isso são questões relativas e que devem ser consideradas no caso pessoal de cada um. Como dizem: "cada caso é um caso"!

     De qualquer forma, gosto de utilizar o Quadro Europeu porque me parece o meio mais prático e objetivo de se estabelecer o nível de idiomas de uma pessoa. O ideal seria o poliglota se avaliar e dar o seu nível em cada uma das habilidades linguísticas por meio dessa tabela. Como isso pode soar sistemático demais, vale pelo menos considerar que, quando a pessoa diz falar dezenas de idiomas, muitos deles estarão nos níveis A1 ou A2. Manter várias línguas nos níveis avançados, C1 e/ou C2, por exemplo, não é fácil, pois demanda tempo de manutenção. Aí entram os objetivos da pessoa: o que você quer com o idioma estudado?

Vale mais um bilíngue produtivo do que um poliglota disperso.

     Na internet existe o seguinte check-list, em inglês, que permite a pessoa ter uma ideia do nível em que está de acordo com o Quadro Europeu:
http://www.coe.int/t/dg4/education/elp/elp-reg/Source/Key_reference/checklist_EN.pdf

     Porém, o melhor mesmo, para dizer em que nível se está, ou até para programar o que nível ao qual se quer chegar, é procurar fazer uma prova internacional de proficiência.

     Fique à vontade para compartilhar suas experiências. Será um prazer ler seus comentários!




domingo, 15 de junho de 2014

Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - Parte 1

          Vimos na última postagem porque é interessante considerar as 4 habilidades linguísticas (leitura, escuta, fala e escrita) quando estabelecemos onde estamos e também aonde queremos chegar no aprendizado de uma língua. Agora vamos combinar a perspectiva das 4 habilidades com a tabela abaixo, apresentando o que o falante de um idioma pode fazer em cada nível considerado. A tabela é o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas -- disponível em várias fontes na Internet (principalmente em inglês, com o nome de Common European Framework of Reference for Languages) --, que modifiquei ligeiramente para adaptá-la à apresentação:

A1 (básico inferior): É capaz de compreender e utilizar expressões familiares e correntes assim como enunciados simples que visam satisfazer necessidades imediatas. É capaz de se apresentar ou apresentar alguém e indagar seu interlocutor sobre assuntos como o local onde vive, suas relações pessoais, o que lhe pertence, entre outros. É capaz de responder ao mesmo tipo de questões. É capaz de se comunicar de forma simples desde que seu interlocutor fale clara e pausadamente e se mostre disposto a colaborar para entender o que lhe é falado.

A2 (básico superior): É capaz de compreender frases isoladas e expressões de uso frequente relacionadas com assuntos de prioridade imediata -- informações pessoais e familiares simples, compras e trabalho, por exemplo. É capaz de se comunicar em situações que exijam apenas trocas de informações simples e diretas sobre assuntos e atividades habituais. É capaz de descrever com meios simples a sua formação, o seu ambiente e de se referir a assuntos que correspondem a necessidades imediatas.

B1 (intermediário inferior): É capaz de compreender os pontos essenciais quando a linguagem padrão utilizada é clara, abordando aspectos familiares em contextos de trabalho, escola e passatempo, entre outros. É capaz de participar da maior parte das situações que podem ocorrer em viagem para uma região onde a língua-alvo é falada. É capaz de organizar um discurso simples e coerente sobre assuntos familiares em diferentes áreas de interesse. É capaz de relatar acontecimentos, experiências ou sonhos, de expressar um desejo ou uma ambição, e de justificar, de forma breve, as razões de um projeto ou de um ponto de vista.

B2 (intermediário superior): É capaz de compreender o conteúdo essencial de assuntos concretos ou abstratos em um texto complexo, incluindo uma discussão técnica na sua especialidade. É capaz de se comunicar com grande espontaneidade, o que permite uma conversa normal com falantes nativos, não se detectando tensão em nenhum dos interlocutores. É capaz de se expressar de forma clara e detalhada sobre uma vasta gama de assuntos, de emitir opinião sobre uma questão atual e de discutir as vantagens e desvantagens de diferentes argumentos.

C1 (avançado inferior): É capaz de compreender uma vasta gama de textos longos e complexos, inclusive detectando significações implícitas. É capaz de se expressar de forma espontânea e fluente sem, aparentemente, ter de procurar as palavras. É capaz de utilizar a língua de maneira eficaz e flexível na sua vida social, profissional ou acadêmica. É capaz de se expressar sobre assuntos complexos, de forma clara e bem estruturada, e de mostrar domínio dos meios de organização, de articulação e de coesão do discurso.

C2 (avançado superior): É capaz de compreender sem esforço praticamente tudo o que lê ou ouve. É capaz de reconstituir fatos e argumentos de fontes diversas, escritas e orais, resumindo-as de forma coerente. É capaz de se expressar de forma espontânea, fluente e precisa e de distinguir pequenas diferenças de sentido relacionadas com assuntos complexos.

          A tabela foi criada pelo Conselho Europeu com o objetivo de propiciar um denominador comum aos métodos de aprendizado, ensino e avaliação das línguas da União Europeia. Posteriormente, o Quadro foi utilizado também para servir de base às provas de proficiência dos diferentes países europeus (goo.gl/fvDQnu). Por isso, as provas internacionais de inglês (Cambridge), francês (DELF/DALF), italiano (Perugia), espanhol (Instituto Cervantes) e alemão (Instituto Goethe) seguem essa mesma escala.

          Para quem quiser ter uma visão mais detalhada do Quadro, com as habilidades dos 6 diferentes níveis detalhadas em cada uma das 4 habilidades, é só fazer o download do material disponível no link abaixo:
http://europass.cedefop.europa.eu/pt/resources/european-language-levels-cefr.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A perspectiva das 4 habilidades linguísticas

No aprendizado de 1 idioma, é preciso considerar as 4 habilidades:
1) Compreensão auditiva (escuta).
2) Compreensão escrita (leitura).
3) Produção oral (fala)
4) Produção escrita (escrita).

As duas primeiras costumam ser chamadas de habilidades passivas e as duas últimas de habilidades ativas. Embora não seja tão exata essa classificação -- diante de um texto complexo o esforço de compreensão, portanto esforço ativo, pode ser enorme! --, é fato que aprender a ler bem textos de sua área de especialidade pode ser mais rápido e mais viável do que aprender a dar palestras no idioma estrangeiro na sua mesma área de habilidade, simplesmente porque quando você lê, recebe as frases prontas, e quando você tem que articular tudo isso pela sua própria conta, o esforço exigido é diferente.

De qualquer modo, o importante aqui é entender que quando uma pessoa diz que sabe ou fala 20 idiomas, por exemplo, ela na verdade sabe ler, em diferentes níveis de competência, a maioria dessas línguas, e sabe falar bem algumas delas. De outras línguas, ela sabe o básico, umas 400 palavras e 50 frases, por exemplo, ou ainda menos. O poliglota sueco Erik Gunnemark, co-autor do livro "The Art and Science of Learning Languages", afirmou: "if you read or hear that a certain person 'can speak' (or 'speaks') a large number of languages (for instance twenty or more) you should always be a little skeptical." (se você ler ou escutar dizer que certa pessoa 'consegue falar' (ou 'fala') um grande número de idiomas (por exemplo, vinte ou mais) você deve sempre permanecer um pouco cético). Isso está no livro Babel no More, de autoria de Michael Erard, página 226.

Isso é apenas para pôr as coisas em perspectiva. Quando perguntam para o estadunidense Alexander Arguelles quantas línguas ele fala, o estudioso demonstra grande cautela, e apesar de ter estudado mais de 50 idiomas, afirma falar mesmo apenas a sua língua materna -- o inglês --, além do francês, do alemão e do coreano. Entrevistado por Michael Erard, (página 115 de Babel No More), Arguelles afirma "most of the languages I've studied I've never spoken, and I probably never will" (nunca falei a maioria das línguas que estudei, e provavelmente nunca falarei).

Portanto, o ideal mesmo seria a pessoa sempre pôr em perspectiva o nível dela nas 4 diferentes habilidades linguísticas. Isso ajuda também no estabelecimento dos objetivos de aprendizagem. Ela pode focar em tão-somente aprender a falar, e permanecer praticamente uma analfabeta na língua em questão. Por outro lado, grandes filólogos (pesquisadores dos idiomas e textos mais representativos de uma cultura com o objetivo de compreender a visão de mundo de tal sociedade), por exemplo, estão mais preocupados em apreender a estrutura e saber ler uma língua do que propriamente falá-la. A ênfase no falar é típica da sociedade atual. Nada de errado, já que falar inglês é uma necessidade real de grande número de pessoas.

Mas então, alguém pode perguntar: "ok, entendi que devemos considerar as 4 habilidades toda vez que falarmos de proficiência linguística. Porém, como dizer, de modo objetivo, em que nível estamos ou em que nível queremos chegar?" É certo que referências como "básico", "intermediário" ou "avançado" não são precisas. Necessitamos do apoio de uma escala confiável e validada. É aí que entra o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, assunto da próxima postagem!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Princípios da aprendizagem de idiomas - Parte 2

Na postagem anterior, falei de 5 princípios da aprendizagem de idiomas. Aqui vai a continuação -- lembrando: não é nada exaustivo. Quem tiver mais ideias ou experiências, contribua!

6. Princípio da diversão. O esforço é necessário, porém não deve ser um fardo. Pelo contrário, quando encarado de modo prazeroso, divertido, torna-se praticamente um hobby. Muitos temos que aprender por necessidade. Porém, o aprendizado, quando você se envolve e não faz apenas por obrigação, se torna muito mais eficiente.

7. Princípio do estabelecimento de objetivos. Novamente, isso é ainda mais relevante para adultos, porém pode servir para as outras faixas etárias também. O ideal é aprendermos com um objetivo em mente, mesmo que seja aprender por aprender, por diversão (aliás, talvez uma das formas mais divertidas, rápidas e eficazes de se aprender um idioma estrangeiro!!). Porém, o objetivo aqui trata-se do nível em que queremos chegar, até onde queremos ir, que tipo de vocabulário queremos dominar, que tipos de textos queremos ler, com quem queremos conversar, se vamos viajar para o país da língua estudada ou se vamos apenas aprender frases turísticas para atender os estrangeiros que nos visitam. Todas essas questões, entre outras, fazem parte dos objetivos, e ajudam a delimitar o tempo que será necessário para o estudo. Com essas perguntas respondidas, é possível termos maior realismo e sabermos até onde podemos chegar, evitando de vez qualquer frustração no aprendizado de idiomas!

8. Princípio da observação. Os idiomas nos apresentam coisas novas constantemente -- inclusive nossa língua materna! --, e geralmente seguem um padrão. Pode-se dizer que aprender um idioma é aplicar o que se observou. Se a pessoa para de observar, ela para de aprender. Por isso, simplesmente ter muitas horas de uso do idioma não significa, necessariamente, o mesmo número de horas de aprendizado. É o caso do estrangeiro que vem para o Brasil, aprende a falar razoavelmente bem, todo mundo o entende, mas mesmo assim ainda fala "o nuvem". Ele pode até ver outros falando certo, mas como parou de observar o português, e ninguém o corrige, ele acaba estagnando e repetindo indefinidamente o mesmo erro. A pessoa só faz progressos se observa atentamente o idioma na prática, aprendendo e aplicando aquilo que observa.

9. Princípio da concentração, repetição e prática. O esforço (realizado com prazer) rende mais quando tem foco. Daí a concentração nos objetivos que se busca no aprendizado. A repetição é fundamental, pois, como já diziam os latinos, Repetitio est mater studiorum (a repetição é a mãe da aprendizagem) -- afinal, ninguém aprende a andar de bicicleta na primeira pedalada ;) E a prática, filha da repetição, é importante porque se não praticamos, esquecemos o que aprendemos. Alguém já aprendeu um idioma e depois de um tempo sem usá-lo viu que estava enferrujado?

10. Princípio da acabativa. Só pare de estudar o idioma que escolheu depois de atingir os seus objetivos. Antes disso, você não deve se permitir parar. Isso evita que você comece o mesmo curso de tempos em tempos, sempre com a sensação de que não avançou. Depois que você atingir seus objetivos, você pode até continuar estudando o mesmo idioma, mas já não será pelos mesmos motivos, que deverão, portanto, ser revisados.

Recapitulando, o fundamental é: responsabilize-se pelo seu próprio aprendizado!

domingo, 8 de junho de 2014

Princípios da aprendizagem de idiomas - Parte 1

O aprendizado de idiomas se torna muito mais eficiente quando aplicamos técnicas que deram certo com outras pessoas e que, ainda mais importante, combinam com o nosso temperamento e estilo. Antes, porém, de nos lançarmos de cabeça no uso de técnicas para dominar o idioma que queremos, é importante entender quais são os princípios -- que poderiam ser chamados também de regras ou até métodos, dependendo da abordagem -- que fundamentam o aprendizado de idiomas, especialmente de adultos. Apresento aqui 10 princípios retirados de minha experiência e leitura, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto. A fim de não cansar o leitor, nessa postagem vão os 5 primeiros:

1. Princípio da disponibilidade de tempo. Aprender exige tempo. Se a pessoa tem desejo de aprender, porém não dispõe de tempo, não pode nem começar. Muito pouco tempo pode ser ineficiente, porém muito tempo disponível pode também fazer a pessoa se dispersar.

2. Princípio da organização e disciplina. Esses dois pontos são colocados juntos porque um reforça o outro em relação ao aproveitamento do tempo. O estudo exige organização de horário para ir à escola de idiomas ou para estudar sozinho, por exemplo.

3. Princípio da motivação. Fator crucial para se fazer qualquer coisa! Se a pessoa tem tempo mas está desmotivada, não vai progredir no aprendizado. A questão, então, é: como se motivar? A motivação surge de um interesse pessoal. Descubra qual o seu interesse no aprendizado de uma língua. Eu aprendi francês não porque gostava da cultura, mas porque precisava de uma língua a mais para me destacar no mercado como guia de turismo, e só com o tempo acabei aprendendo a admirar os franceses. Você pode aprender também apenas para ler o que lhe interessa -- a habilidade de leitura pode se desenvolver mais depressa do que a fala.

4. Princípio da utilidade. A motivação e o interesse, especialmente quando trata-se de adultos, precisa estar ligada a um contexto claro e objetivo, trazendo, se possível, benefícios imediatos. Embora me falte informações concretas para afirmar isso, tenho a impressão de que o adulto, depois dos 30, quando entra numa escola de inglês, raramente vai até o final e sai falando. Isso pode ocorrer por vários motivos, mas um deles é a falta de ligação direta entre o que está aprendendo e suas necessidades/motivações/interesses.

5. Princípio da autonomia. Esse princípio é, talvez, o mais fundamental de todos: não terceirize o seu aprendizado, assuma-o! Quem tem que fazer o trabalho é você! O professor pode ensinar, mas não pode aprender por ninguém. Quem aprende é o aluno.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

GALINHA TONTA - Doações

Vale a pena explicar um pouco do trabalho voluntário que o Edvalson (vulgo Galinha) desenvolve há décadas. Desde que teve os sonhos em que aprendeu os idiomas, ele se sente imbuído da missão de repassar seus conhecimentos de modo GRATUITO às crianças carentes. Como não tinha estrutura, ele começou ensinando os fundamentos do inglês, japonês e alemão debaixo da sombra de um pé de juazeiro que fica na esquina da sua casa:
Com o tempo, Galinha pensou que uma edificação de alvenaria no fundo do terreno da sua casinha lhe ajudaria a otimizar os trabalhos. Assim, começou uma campanha entre os alunos. O slogan era: "uma criança, um tijolo". Cada aluno(a) levava um tijolo doado pelo pai, ou pela mãe, para ajudar na construção da Escola do Galinha Tonta. Dessa estrutura, aqui vemos o quadro negro:
Já com as aulas em andamento nessa nova estrutura, Galinha fundou em 2005, com a ajuda de voluntários da comunidade local, a Associação Espaço Fala Menino (http://www.galinhatonta.com.br/). Na foto abaixo é possível ver o muro da Associação. Na verdade, trata-se do muro da casa do próprio Edvalson, que fica na frente, com a modesta edificação que serve de escola nos fundos.
No entanto, a escola está precisando de reparos, como se vê aqui no teto:
Como é tudo voluntário e o Galinha não tem recursos, pois vive de vender, de bicicleta, pimenta e balas na vizinhança, qualquer ajuda é muito bem-vinda.
Enfim, quem vê de perto o trabalho do Galinha percebe que ele realmente presta assistência às crianças. Existem várias formas de ajudar, e uma delas é a financeira. Como o Galinha foi muito gentil conosco, abrindo o seu espaço para pesquisarmos a sua realidade, e me fez um pedido pessoal para ajudá-lo a angariar fundos, resolvi fazer esse postagem dedicada exclusivamente a isso.

Pessoal, é isso aí, quem quiser ajudar, basta entrar em contato com ele pelo facebook (onde ele disponibiliza inclusive seus números de contato) ou pelo da Associação Espaço Fala Menino (http://www.galinhatonta.com.br/). Da minha parte, e do Juan Talavera, que realizou a pesquisa comigo, continuaremos a tentar ajudá-lo da maneira que pudermos!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

GALINHA TONTA

O estudo de poliglotas e o modo como aprenderam idiomas é fundamental para se entender e aprimorar o que alguns autores chamaram de "The Art and Science of Learning Languages" (A Arte e a Ciência do Aprendizado de Idiomas). Com essa intenção, a personalidade do Edvalson Bispo dos Santos, vulgo GALINHA TONTA, aparece como um caso interessantíssimo que merece um estudo mais aprofundado. Mineiro de São Francisco, ele afirma ter aprendido japonês, alemão e inglês em sonhos que começaram aos 7 e perduraram até os 22 anos de idade (https://www.youtube.com/watch?v=BmG4BwcThkE).

No mês passado, meu grande amigo Juan Talavera, estudioso das capacidades humanas transcendentes, me deu um grande presente de aniversário -- as passagens até a cidade do Galinha Tonta para estudarmos o caso pessoalmente!
No Youtube existem vários vídeos sobre o Galinha, mas estudá-lo in loco é outra coisa! Além do estudo do poliglotismo em si, queríamos estudar a possibilidade de ter realmente ocorrido algo transcendente com ele. Ficamos 29 e 30 de maio com o Galinha Tonta. Podemos dizer que o homem é a simpatia em pessoa. Ele é um exemplo de que o poliglotismo, a capacidade de se falar (falar mesmo) vários idiomas, não se limita às escolas de idiomas. Tem a ver com prática e esforço pessoal. O Galinha é um personagem público, verdadeiro embaixador da cidade. Muitas pessoas nos ajudaram nessa empreitada, a exemplo do Delcídio, dono da Pousada Peixe Vivo, aliás, recomendada a quem quiser se hospedar na beira do Rio São Francisco (o Velho Chico),
e o Valério, dono do Restaurante e Pizzaria Via Center, também recomendada a quem estiver na cidade, além do João Naves de Melo, autor, folclorista e editor do Jornal O Barranqueiro, grande intelectual da região. Levantamos muito material sobre o Edvalson, e será preciso um artigo a ser publicado oportunamente para dar conta da quantidade de informações reunidas. Porém, gostaria de deixar registradas aqui algumas hipóteses sobre o caso Galinha Tonta:

1) Algo transcendente parece ter de fato ocorrido com ele, não sabemos exatamente o quê. Provavelmente a melhor maneira de explicar seja por meio da projeção consciente.

2) Ajudas transcendentes e bem-intencionadas tendem a ocorrer quando os efeitos de tal intervenção tenham consequência na melhoria de vida de muitas pessoas. E isso é exatamente o que o Galinha faz. Ele tem ensinado as crianças carentes, repassando seus conhecimentos sobre idiomas e sobre a vida, há décadas, tendo ajudado milhares de crianças até o momento, tudo de forma gratuita. Ele tem uma escola no fundo do terreno onde mora, e está buscando apoio financeiro para melhorar a estrutura.

3) Pude avaliar o inglês e o alemão do nosso personagem. Diria que ele está no nível B1 com grande potencial para o nível B2. O que é isso? É o nível intermediário avançado! E isso é impressionante, um grande estímulo para quem até hoje sofre com as aulas de inglês.

E isso aí, para quem quer aprender idiomas de modo mais eficiente, os poliglotas são uma inspiração constante. O Galinha é um desses, que vai mostrando o caminho adiante. Vamos em frente! Siempre adelante! Let's keep on going!