No aprendizado de 1 idioma, é preciso considerar as 4 habilidades:
1) Compreensão auditiva (escuta).
2) Compreensão escrita (leitura).
3) Produção oral (fala)
4) Produção escrita (escrita).
As duas primeiras costumam ser chamadas de habilidades passivas e as duas últimas de habilidades ativas. Embora não seja tão exata essa classificação -- diante de um texto complexo o esforço de compreensão, portanto esforço ativo, pode ser enorme! --, é fato que aprender a ler bem textos de sua área de especialidade pode ser mais rápido e mais viável do que aprender a dar palestras no idioma estrangeiro na sua mesma área de habilidade, simplesmente porque quando você lê, recebe as frases prontas, e quando você tem que articular tudo isso pela sua própria conta, o esforço exigido é diferente.
De qualquer modo, o importante aqui é entender que quando uma pessoa diz que sabe ou fala 20 idiomas, por exemplo, ela na verdade sabe ler, em diferentes níveis de competência, a maioria dessas línguas, e sabe falar bem algumas delas. De outras línguas, ela sabe o básico, umas 400 palavras e 50 frases, por exemplo, ou ainda menos. O poliglota sueco Erik Gunnemark, co-autor do livro "The Art and Science of Learning Languages", afirmou: "if you read or hear that a certain person 'can speak' (or 'speaks') a large number of languages (for instance twenty or more) you should always be a little skeptical." (se você ler ou escutar dizer que certa pessoa 'consegue falar' (ou 'fala') um grande número de idiomas (por exemplo, vinte ou mais) você deve sempre permanecer um pouco cético). Isso está no livro Babel no More, de autoria de Michael Erard, página 226.
Isso é apenas para pôr as coisas em perspectiva. Quando perguntam para o estadunidense Alexander Arguelles quantas línguas ele fala, o estudioso demonstra grande cautela, e apesar de ter estudado mais de 50 idiomas, afirma falar mesmo apenas a sua língua materna -- o inglês --, além do francês, do alemão e do coreano. Entrevistado por Michael Erard, (página 115 de Babel No More), Arguelles afirma "most of the languages I've studied I've never spoken, and I probably never will" (nunca falei a maioria das línguas que estudei, e provavelmente nunca falarei).
Portanto, o ideal mesmo seria a pessoa sempre pôr em perspectiva o nível dela nas 4 diferentes habilidades linguísticas. Isso ajuda também no estabelecimento dos objetivos de aprendizagem. Ela pode focar em tão-somente aprender a falar, e permanecer praticamente uma analfabeta na língua em questão. Por outro lado, grandes filólogos (pesquisadores dos idiomas e textos mais representativos de uma cultura com o objetivo de compreender a visão de mundo de tal sociedade), por exemplo, estão mais preocupados em apreender a estrutura e saber ler uma língua do que propriamente falá-la. A ênfase no falar é típica da sociedade atual. Nada de errado, já que falar inglês é uma necessidade real de grande número de pessoas.
Mas então, alguém pode perguntar: "ok, entendi que devemos considerar as 4 habilidades toda vez que falarmos de proficiência linguística. Porém, como dizer, de modo objetivo, em que nível estamos ou em que nível queremos chegar?" É certo que referências como "básico", "intermediário" ou "avançado" não são precisas. Necessitamos do apoio de uma escala confiável e validada. É aí que entra o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, assunto da próxima postagem!
Muito interessante :) Uma boa classificação da destrezas linguísticas é em receptivas (ler e ouvir) e produtivas (falar e escrever), já que, como bem vc falou, nenhuma delas é "passiva". Aguardo o próx. post sobre o QECR!
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