É plenamente possível aprender idiomas
de forma autodidata. O autodidatismo em idiomas não implica em aprendizado
isolado, totalmente independente, sem recorrer à ajuda de pessoas mais capazes,
eventualmente até mesmo professores. Significa, antes, o estudo conduzido e
supervisionado pela própria pessoa, senhora de si, com objetivos e estratégias
selecionadas por si, adequadas a si, utilizadas de maneira condizente com suas
características gerais de personalidade, levando também em conta a estrutura
material disponível, o tempo, e a disposição para levar a cabo a aquisição. A
obra Como ser um ótimo aluno de idiomas,
de Joan Rubin e Irene Thompson (2000), apresenta técnicas e estratégias para o
aprendiz gerenciar o próprio aprendizado. Não se trata de um manual para o
autodidata em idiomas, porém constitui um prático material de apoio e
orientação nesse sentido. Destacar-se-á algumas ideias aduzidas pelas autoras
com a intenção de precisar a postura autodidata.
1) Definir objetivos: é importante definir claramente os objetivos que se quer atingir ao iniciar o estudo de qualquer idioma. Para que aprender uma língua? Os motivos são tão diversos quanto as motivações pessoais de cada um. Podem ser profissionais, educacionais, sociais ou pessoais. Em primeiro lugar, definir as necessidades perante o idioma. Em seguida, manter os objetivos em um nível realista. Ninguém aprende um idioma de um dia para o outro. O seu aprendizado pode levar muito tempo, em função da afinidade, da complexidade e do grau de parentesco da língua-alvo com a língua materna, entre outros fatores.
2) Estabelecer nível: o aprendiz, a fim de manter seus objetivos realistas, pode estabelecer para si próprio o nível que pretende alcançar na língua em questão. Quer ser fluente? Quer saber o suficiente para a sua profissão técnica? Precisa aprender apenas a ler no idioma, a fim de passar em alguma prova? Ao que tudo indica, cada vez que se passa de um para outro nível o aprendizado exigirá gradualmente mais tempo e esforço. Por ocasião do processo de planejamento de objetivos, recomenda-se levar em conta o fato de que a dificuldade aumenta a cada vez que se passa de um nível a outro. Para ajudar nesse processo, pode-se aproveitar a escala global de níveis de proficiência, disponibilizada abaixo, desenvolvida pela União Européia. Tal trabalho foi realizado para padronizar as avaliações de idiomas nos diferentes países da Europa, e reflete o consenso quanto aos níveis pelos quais a pessoa passa quando aprende uma língua estrangeira.
3) Disponibilizar recursos: o aprendiz geralmente lança mão, em seu empreendimento, de livros-texto, dicionários, fitas cassete, CDs, gramáticas, fitas de vídeo, softwares, professores, falantes nativos, amigos, revistas, jornais e livros, entre outros. Vários desses materiais podem ser conjugados. Por exemplo: um artigo de uma determinada revista pode ser lido a fim de ser resumido ou então para que se escreva a posição pessoal em relação ao assunto abordado. Nessa atividade pratica-se a leitura crítica, adquiri-se vocabulário e, por fim, exercita-se a escrita. O mesmo exemplo pode ser estendido a um filme. Depois de assisti-lo, discutir-se-ia sobre o mesmo. Igualmente, se aprenderia vocabulário de maneira espontânea, se treinaria a compreensão auditiva e, ao final, se exercitaria a expressão oral. Vale assinalar que os DVDs atuais possuem recursos que permitem ver um filme na sua língua original com legendas ou na língua materna do telespectador. Há ainda revistas com artigos em formato sonoro, em CDs. Pode-se escutá-lo e depois checar a compreensão lendo o artigo. Como se constata, a imaginação é o único limite para a utilização original e proveitosa dos materiais disponíveis no mercado.
4) Desenvolver plano de estudos: estabelecidos os objetivos e o nível que se quer alcançar, conforme os recursos disponíveis, o próximo passo é desenvolver o próprio plano de estudos. Nesse particular a disciplina e a dedicação são indispensáveis. Há autodidatas que dedicam 3 horas diárias ao estudo de um determinado idioma. Há outros que estudam por imersão, isto é, procuram “respirar” o idioma-alvo 24 horas, saturando a mente com ele. Independentemente da escolha, é importante observar a dedicação dispensada a cada uma das 4 (quatro) habilidades da língua, isto é, a escuta, a fala, a leitura e a escrita. Vale a pena se dedicar a cada uma por igual ou priorizar a escuta em primeiro lugar e depois a fala? São questões que os passos anteriores já vão de certa forma respondendo e delimitando.
5) Aprender a aprender: uma boa dica é tornar-se um estrategista de si mesmo. O aprendiz que deseja aprimorar uma determinada habilidade, por exemplo, a expressão oral, pode elaborar um questionário para si mesmo a fim de aperfeiçoar cada vez mais seu processo de auto-instrução. Seriam questões do tipo: quando não sabe como dizer algo no idioma estrangeiro, tenta dizê-lo de outra forma? Ao sentir-se “travado” em uma conversação, geralmente tenta obter ajuda de seu interlocutor? Você possui uma variedade de expressões úteis para comunicar-se durante uma conversação na outra língua, por exemplo, frases fixas que expressam o seu estado de ânimo ou problemas com a linguagem, expressões padronizadas para cobrir as brechas na conversação, para ser sociável e amistoso?
Vale ressaltar que dificilmente os interesses financeiros de editoras de livros-texto, de escolas, e até de professores, sugerirão o aprendizado autodidata de línguas. É preciso lembrar, contudo, que uma vez que se tenha disponível a informação – a língua em si, através de livros e dicionários –, no que, aliás, a Internet veio muito a contribuir, e a vontade aliada à disciplina, é perfeitamente exequível tornar-se um autodidata. Basta, acima de tudo, dedicação.
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